quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Neandertal...menos inteligente? Não!

Na segunda metade do século XIX, foram descobertos os fósseis de dois ancestrais do homem moderno: o primeiro, no vale de Neandertal, na Alemanha, em 1856; o segundo, na caverna de Cro-Magnon, na França, em 1868. Ao batizar o esqueleto localizado na Alemanha, porém, o paleontólogo William King optou por classificá-lo não como um Homo sapiens, mas como uma subespécie que chamou de Homo neanderthalensis.

Retratado como primitivo, simiesco, canibal e rude, o Neandertal foi visto como o oposto do homem de Cro-Magnon, considerado o ancestral direto do Homo sapiens. Em um estudo publicado em 1911, o professor Marcellin Boule descreve um fóssil de Neandertal encontrado na França, o homem de Chapelle-aux-Saints, da seguinte maneira: “A ausência provável de todo e qualquer sinal de preocupação de ordem estética ou moral combina bem com o aspecto brutal desse corpo vigoroso e pesado, dessa cabeça ossuda, com maxilares robustos, e no qual ainda se afirma a predominância das funções puramente vegetativas ou bestiais”.

O trabalho de Boule contribuiu de forma decisiva para construir a má reputação do Neandertal. Não que sua aparência fosse das mais convidativas: com 1,65 metro de altura, de compleição robusta, ele tem a postura arqueada, sua testa é muito recuada e suas sobrancelhas proeminentes se destacam em uma face alongada, com uma vasta cavidade nasal. Em 1908, o escultor italiano Montecucco reconstituiu o rosto de um Neandertal, dando-lhe uma expressão aterradora, que sugeria a bestialidade. 




No entanto, essa visão começou a mudar a partir de meados do século XX. Em 1939, o antropólogo americano Carleton Coon afirmou que, barbeado, penteado e vestido, o Neandertal “passaria despercebido no metrô de Nova York”. Para ele, a evolução humana era uma sucessão contínua de formas, desde o Homo erectus até o sapiens, e aquilo que até então era considerado uma subespécie representaria na verdade um estágio intermediário entre os dois. As afirmações de Coon contribuíram para mudar o status do Neandertal, e hoje os neodarwinistas já não aceitam separá-lo do homem moderno.

Além da mudança de perspectiva, descobertas realizadas a partir da década de 1960 ajudaram os pesquisadores a conhecer melhor esses homens que viveram na Europa e na Ásia ocidental, no período Paleolítico Médio, entre 250 mil e 28 mil anos atrás, aproximadamente. Os achados revelam que eles produziram uma rica cultura material, chamada musteriana. Hábeis caçadores, fabricavam ferramentas de pedra, além de ornamentos e adereços, o que atesta a presença de preocupações estéticas. E mais: tinham sepulturas e uma linguagem.

Durante dezenas de milhares de anos, o Cro-Magnon e o Neandertal coexistiram e conviveram, sem que o primeiro exterminasse o segundo. Todavia, algumas perguntas continuam sem resposta. De onde veio o Neandertal? Como e por que ele desapareceu? Uma coisa é certa: ele não era tão estúpido assim...
 Olivier Tosseri

Fonte: www2.uol.com.br/historiaviva/artigos/

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