sábado, 19 de novembro de 2011

Uma dolorosa memória da escravidão

Mercado de escravos RJ

Análise do Cemitério dos Pretos Novos destaca colossal dimensão da escravidão no Rio de Janeiro

Sepultada por toneladas de terra e séculos de esquecimento, jaz no Centro antigo do Rio, uma dolorosa memória da escravidão. São os resquícios do Cemitério dos Pretos Novos, cimentados sob os bairros da Gamboa e da Saúde. Eles reaparecem aos poucos, em escavações, análises de ossos, dentes e objetos. Cada um deles revela um pouco mais de uma história que assombra pelas dimensões da crueldade e da ambição que trouxeram da África milhões de escravos para o Rio. Uma dessas análises foi concluída este ano e confirma a tese de que a cidade foi um dos maiores portos de entrada de escravos das Américas.
Pessoas escravizadas originárias de quase todas as partes da África chegavam ao Rio e daqui podiam ser levadas para o restante do país. Muitas não resistiam às condições desumanas da travessia do Atlântico ou do mercado de escravos do Rio e eram enterradas perto do porto. O termo enterro é, de fato, um eufemismo. Os corpos eram abandonados à decomposição ou queimados.
Nos anos 1990, alguns desses corpos foram encontrados durante a reforma de uma casa na Rua Pedro Ernesto, na Gamboa. Arqueólogos do Instituto de Arqueologia Brasileira fizeram ali em 1996 um resgate do que fora acidentalmente exposto, publicando depois os primeiros estudos. Mas foi só este ano que cientistas concluíram uma análise mais detalhada dos dentes e ossos. Um trabalho de detetive, com tecnologia moderna, para investigar um drama de quase 200 anos. Apoiada pelo CNPq e pela Faperj, a pesquisa reuniu cientistas da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), do Museu Nacional/UFRJ, do Laboratório Geochronos da UnB e da Universidade de Indiana, nos EUA.
— Há vestígios de 30 pessoas. Estão muito degradados — diz Sheila Mendonça, bioantropóloga da Ensp.
O DNA, de tão degradado, por enquanto nada revelou. Mas os pesquisadores recorreram a uma técnica diferente e menos conhecida pelo público. Chamada de análise de isótopos de estrôncio, ela mede a proporção desse elemento químico nos dentes. É uma espécie de DNA geoquímico. O estrôncio é um metal de nome estranho e características curiosas. Essas proporções são assinaturas geoquímicas que dependem das características das rochas de uma dada região.
— A análise do estrôncio do esmalte dos dentes permanentes, que são formados na infância e não se remodelam, revela um indício de onde viveu uma pessoa nos primeiros anos de vida — explica Ricardo Ventura Santos, coordenador do grupo, da Ensp e pesquisador do Setor de Antropologia Biológica do Museu Nacional.
A diversidade geológica na África compreende quase toda aquela existente no planeta. O estrôncio extraído dos dentes das pessoas enterradas no Cemitério dos Pretos Novos reflete essa diversidade planetária.
— As pessoas ali vieram de todas as partes da África. Nosso estudo reforça como o tráfico de escravos era uma prática espalhada pelo continente africano. Indica também as monumentais dimensões do tráfico realizado pelo porto do Rio — destaca Ventura.
O Cemitério dos Pretos Novos foi criado pelo Marquês do Lavradio em 1760. Por 70 anos, funcionou ali uma fábrica de horrores. O marquês se viu obrigado a abrir um novo cemitério depois que o porto de escravos foi transferido da Praça XV para o Valongo (atual Rua Camerino).
— Temos que levar em conta que nosso conceito moderno de cemitério não se aplica ao que existia àquela época. O Cemitério dos Pretos Novos consistia em um lugar cercado, onde os corpos eram queimados ou deixados insepultos. Covas eram abertas e corpos, empilhados — explica Sheila.
Os pesquisadores calculam que lá tenham sido enterradas, pelo menos, de 20 mil a 30 mil pessoas. O Cemitério dos Pretos Novos era o destino de muitos dos que já chegavam doentes. Ele podia ser avistado do porto e do mercado de escravos do Valongo, para horror dos cativos. O cemitério passou a receber os enterros antes destinados ao Largo de Santa Rita, em frente à Igreja de Santa Rita.
— Não existem estimativas da taxa de mortalidade dos escravos que chegavam ao porto, mas sabemos que deveria ser elevadíssima. Um dos aspectos importantes das pessoas enterradas lá reside no fato que, ao que tudo indica, apenas 5% das pessoas enterradas lá não eram escravas. Isso torna o Cemitério dos Pretos Novos o mais africano do Brasil — diz Sheila.
Ela, Ricardo e outros pesquisadores, incluindo Murilo Quintans Bastos e Roberto Ventura, da UnB, buscam pistas sobre as origens dessas pessoas mortas pouco após o desembarque. Com as histórias dos mortos esperam dar vida a um dos menos conhecidos capítulos da história da escravidão no Brasil.
Depois que o cemitério foi fechado (por motivos “sanitários” e legais, já que o tráfico de escravos foi proibido), a cidade começou a aterrar o pântano e a praia. Terra e areia cobriram os restos dos mortos e a memória. A Rua do Cemitério, por exemplo, hoje chamase Pedro Ernesto.
Até agora, nunca houve escavações contínuas na região dos Pretos Novos. O material analisado é resultado do trabalho da bioarqueóloga Lilia Cheuiche Machado, do IAB. Lilia observou que a maioria dos mortos era de homens jovens, inclusive crianças.
— Todo o material que analisamos vem de quatro buracos. Os ossos estavam misturados — analisa Sheila.
Das 30 pessoas, só duas estavam fora do padrão esperado. Um era um homem mais velho, que poderia viver no Rio há mais tempo, e outro talvez não fosse africano.
— Todos os demais eram africanos recém-chegados. Um dos aspectos que nos chamou a atenção foi encontrar dentes com sinais de polimento — observa Sheila.
O polimento é fruto de uma forma de higiene oral praticada por muitos povos africanos.
— Esse polimento era resultado da mastigação de plantas específicas, funcionava como pasta de dentes. Mas só há sinais da prática em recém-chegados. Depois, elas não tinham mais como limpar os dentes dessa forma e os sinais desapareciam. Alguns dos que analisamos possuíam sinais bem claros, indicando que deveriam ter chegado há pouco tempo — frisa Sheila.
Ao analisar marcas de polimento talvez seja possível identificar que espécies eram usadas, onde existiam e, assim, de onde veio a pessoa que as utilizavam. O trabalho continua. Mas será fundamental que escavações revelem mais restos mortais e busquem reconstruir outros dramas pessoais integrantes de um dos mais dolorosos momentos da história do Brasil.

Fonte: site -  www.oglobo.globo.com

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Família Schurmann acha submarino que afundou na 2ª Guerra Mundial

U-boat U-513 em 1942
 Há 68 anos, durante a Segunda Guerra Mundial, um avião americano localizava, em águas brasileiras, um submarino alemão. Esta semana uma descoberta histórica, uma família de velejadores encontrou o U-513 no fundo do mar.

Velas ao vento. Missão: encontrar o U-513, um submarino alemão que foi bombardeado e afundou em águas brasileiras durante a Segunda Guerra Mundial. O Fantástico acompanhou o início desta história.


Em 2009, a equipe do Fantástico acompanhou a família Schurmann em mais uma aventura. Depois de dois anos de buscas, o flagrante da grande descoberta. “O leme tem cinco metros na planta e aqui tem cinco metros. Achamos”, comemora o comandante da expedição, Vilfredo Shurmann.


O desafio da equipe comandada pela família Schurmann foi algo como procurar uma agulha num palheiro. Vasculhar uma área de 200 quilômetros quadrados exigiu muita pesquisa, paciência e tecnologia.

Um equipamento chamado magnetômetro, foi fundamental. Ele localiza objetos de metal no fundo do mar e é capaz de dimensionar o tamanho e o peso de tudo o que rastreia.

“Nós pudemos calcular que existia um objeto lá embaixo, com um peso entre 600 e 1mil toneladas. Bom, o submarino alemão tem exatamente 760 toneladas, então este foi o primeiro indício para o achado”, explica o oceanógrafo
Lindino Benedette.

Outro aparelho, o sonar de varredura, completou o serviço. Ele funciona de um jeito simples: emite sons e depois capta o eco para compor o desenho. O resultado é uma espécie de ultrassonografia do submarino, que esta semana vai completar 68 anos intocado no fundo do mar.

“É uma foto semelhante a uma ultrassonograia feita em bebês, só que no mar”, explica o oceanógrafo Thomaz Tessler.

Durante a Segunda Guerra Mundial, dez submarinos alemães e um italiano foram bombardeados e afundaram na costa brasileira. O U-513 foi o primeiro e único encontrado até hoje.
O U-513, U-boat do tipo IXC
Em junho de 1943, o submarino alemão patrulhava a rota Buenos Aires - Rio de janeiro com a missão de afundar qualquer navio aliado. Dentro dele, 53 tripulantes, 22 torpedos e 44 minas. O U-513 tinha fama de aterrorizar navios mercantes. Só na costa brasileira, em menos de um mês, afundou três embarcações.

“Havia uma estratégia de guerra global, e isso incluía o patrulhamento da nossa costa, patrulhamento de toda essa região que era rota de passagem de navios que levavam mantimentos, levavam matéria prima, uma série de materiais que eram importantes para os aliados”, diz o jornalista e pesquisador, Roberto Sander.

Em 19 de julho de 1943, um hidroavião americano decola junto à costa de Florianópolis com uma missão: localizar e abater o submarino inimigo. Por horas, nada foi encontrado. Até que, às 15h30, o piloto percebeu um ponto em alto mar. Era o submarino, que navegava na superfície, aí começou um ataque anti-aéreo.

Em uma atitude quase Kamikaze, o avião deu um rasante a apenas 15 metros de altura e soltou seis bombas de 225 quilos cada.

Duas bombas acertaram em cheio o casco do submarino, que afundou em poucos minutos. Apenas sete tripulantes que estavam no convés sobreviveram, e isso graças a um bote lançado pelo próprio avião que fez o ataque.

“Nós fomos para os Estados Unidos, onde nós fizemos uma pesquisa bem extensa nos arquivos secretos de guerra. Fomos para a Alemanha também visitar o museu do U-BOAT para ver tudo que tinha. Nós descobrimos o diário de bordo do navio que resgatou os sobreviventes do submarino, então a partir tivemos mais ou menos uma ideia de onde é que estava o submarino”, conta Heloísa Schurmann.

O U-513 foi localizado cerca de 85 quilômetros ao leste de Florianópolis . O ponto exato é segredo.

“Por isso nós estamos guardando a sua posição a sete chaves para ninguém poder tocar nele até podermos registrar as primeiras imagens oculares lá”, explica o cineasta David Schurmann.

Começa agora uma nova etapa da expedição, a 135 metros de profundidade: “a gente vai precisar mandar um robô lá embaixo para poder filmar, e quem sabe até entrar dentro do submarino, que seria um sonho”, diz Shurmann.

Entrar e quem sabe descobrir que segredos deste tesouro da história mundial.

Fonte:  http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1667645-15605,00.html
Fonte das imagens: http://www.blogger-index.com/feed63232.html 

quinta-feira, 14 de julho de 2011

14 de julho - A Queda da Bastilha e a Revolução Francesa

Segundo a historiografia tradicional, a Queda da Bastilha marca o início da Revolução Francesa. Não há dúvida de que o movimento popular em Paris tenha grande significado, porém a Revolução deve ser vista como um processo, onde é necessário analisar a situação econômica do país, os interesses de classes envolvidos e os interesses dos demais países europeus.




A Queda da Bastilha

A BASTILHA
A Bastilha foi construída em 1370 e tornou-se uma prisão durante o reinado de Carlos VI; no entanto foi durante a Regência do Cardeal Richelieu, no século XVII que tornou-se uma prisão para nobres ou letrados, adversários políticos, aqueles que se opunham ao governo ou mesmo `a religião oficial.
No dia 14 de julho de 1789 a Bastilha abrigava apenas 7 prisioneiros, no entanto a multidão invadiu-a tanto por representar um símbolo do absolutismo, como para tomar as armas que haviam em seu interior.

A REVOLUÇÃO
A importância da Queda da Bastilha reside no fato de que a partir desse momento a revolução conta com a presença das massas trabalhadoras, deixando de ser apenas um movimento onde deputados julgavam que poderiam eliminar o Antigo Regime apenas fazendo novas leis.
A gravidade da crise econômica havia envolvido todo o país em uma situação caótica: os privilégios dados à nobreza e ao Alto Clero dilapidaram as finanças do país, situação ainda mais agravada com a participação da França na Guerra de Independência dos EUA em ajuda aos colonos e palas secas, responsáveis por uma crise agrária, que levava os camponeses miséria extrema e determinava o desabastecimento das cidades assim como a retração do comércio interno.



O Rei Luís XVI

Na medida em que a nobreza recusou-se a abrir mão de seus privilégios, o rei Luís XVI viu-se forçado a convocar a Assembléia dos Estados Gerais, que reuniria os representantes da Nobreza, do Clero e do Povo ( burgueses). As manobras políticas da realeza tinham por objetivo fazer aprovar nova legislação, que preservaria os privilégios do 1° e 2° estados e ao mesmo tempo sobrecarregariam o 3° estado.
Os representantes do povo se auto proclamam Assembléia Nacional. Esse fato representa de um lado o grau de organização e a consciência da burguesia, ancorada pelos ideais do Iluminismo, e ao mesmo tempo nos dá idéia de qual era a perspectiva de Revolução para essa classe social, eliminar o Antigo Regime, através de uma reforma na legislação, forçando o rei a aceitar o organização de um poder legislativo responsável pela elaboração das leis.
Enquanto os deputados se reuniam na Assembléia, o rei reunia tropas na tentativa de evitar o movimento revolucionário, foi nesse contexto que formou-se a "Milícia de Paris" e no dia seguinte as ruas e a Bastilha eram do povo.
O movimento revolucionário saia às ruas; percebia-se que somente com a participação e o apoio popular poderiam haver mudanças significativas. Apesar de organizada e armada, a camada popular urbana defendia a manutenção da Assembléia Constituinte e portanto acreditava que as novas leis poderiam trazer uma mudança significativa.

Ao contrário, no campo, a situação era de marcada por grande radicalização caracterizada por invasões de propriedades senhoriais,,onde muitos nobres foram executados, cartórios invadidos, onde os títulos de propriedade feudal eram queimados. Os camponeses não possuíam uma ideologia definida e nem um projeto acabado, porém o movimento -- Grande Medo - refletia a situação de profunda miséria vivida no campo.
Ao fugir do controle da burguesia, o movimento camponês foi responsável por uma das primeiras mudanças significativas da Revolução: a 26 de agosto foi aprovada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de inspiração iluminista, defendia o direito a liberdade, à igualdade perante a lei, a inviolabilidade da propriedade privada e o direito de resistir à opressão.
Fonte. Site www.histórianet.com.br

segunda-feira, 11 de julho de 2011

África Diversa - I encontro de cultura afro-brasileira

de 17 a 22 de julho de 2011
Centro Municipal de Artes
Calouste Gulbenkian/RJ

O Brasil recebeu e ainda recebe uma grande influência da África na formação de sua identidade. A riqueza e diversidade das manifestações culturais, grupos, artistas e pesquisadores que encontramos em nosso território e que dialogam com a cultura de alguns países do continente africano nos comprovam a veracidade desta afirmação.
O projeto "África Diversa: I Encontro de Cultura Afro-Brasileira" traz uma programação que inclui shows, apresentações, oficinas, mini-cursos, contações de histórias, mostra de cinema, livraria, lançamentos de livros, palestras e um seminário; no intuito de mostrar um panorama da diversidade cultural afro-brasileira e africana.
As atividades vão privilegiar em sua abordagem os seguintes temas: a formação de identidades da cultura afro-brasileira, sua diversidade cultural, a relação entre tradição e contemporaneidade, o diálogo África-Brasil e a importância da transmissão oral nestas sociedades.
O primeiro encontro será de 18 a 22 de julho de 2011 e será realizado no Centro Municipal de Artes Calouste Gulbenkian, na Praça Onze com artistas como Naná Vasconcelos (PE), François Moïse Bamba (Burkina Faso), Raíz de Polon (Cabo Verde). No dia 17 de julho, dia anterior à abertura oficial, dois cortejos bastante simbólicos - a Guarda de Moçambique de Nossa Senhora das Mercês e a Guarda de Congo de Nossa Senhora do Rosário da cidade de Oliveira, Minas Gerais - que cantam e dançam uma tradição iniciada antes de 1888, mas que hoje ainda se encontra viva e em constante movimento, farão cortejos pela cidade do Rio de Janeiro. Em Copacabana, estes grupos vão encontrar o mar, cantando e louvando as tradições de Nossa Senhora do Rosário, surgida das águas. Já na Praça XV, local da assinatura da lei que libertou os escravos, os tambores, gungas e patangomes - instrumentos utilizados pelos Congadeiros - vão mostrar a força da cultura negra.
Dentro da programação do "África Diversa", criamos um Seminário que inclui duas mesas, três mini-cursos e oito oficinas para a formação de 120 educadores, com a participação de nomes como Alberto da Costa e Silva, Nei Lopes, Emanoel Araújo. Esta ação vai colaborar na demanda da abordagem de questões ligadas à cultura afro-brasileira em sala de aula, trazendo novas questões, olhares e reflexões sobre essa temática no Brasil e na África, rememorando a nós, brasileiros, quem somos e os diversos caminhos, experiências e realidades que encontramos do lado de lá e de cá do Atlântico.
Daniele Ramalho
Curadoria
 
Mais informações: http://africadiversa.com.br

Madame Satã

Madame Satã

Lapa, em meados dos anos 1930 e 1940, neste cenário, hoje saudosista, surge um personagem emblemático da vida noturna e marginal do Rio de Janeiro.
João Francisco dos Santos nasceu em 25 de fevereiro de 1900 na cidade de Glória de Goitá em Pernambuco.
Foi dado por sua mãe a um senhor ainda menino e pouco depois fugiu com uma mulher que lhe ofereceu um emprego no Rio de Janeiro.
Passou a maior parte de sua vida nas ruas boêmias da Lapa.
Negro elegante, pobre limpo, célebre marginal, valentão, artista, homossexual com orgulho, analfabeto inteligente, capoeirista e carnavalesco.
 João ficou conhecido como Madame Satã porque ganhou um concurso de fantasias em 1938 fantasiado de morcego com muitas lantejoulas que lembrava uma personagem do filme Madame Satã (filme exibido na época).
Algumas semanas após o baile de carnaval do Teatro da República, João e seus amigos gays foram até o Passeio Público (Centro do Rio) onde sempre se reuniam para as “prosas”, quando foram abordados por policiais e levados à delegacia.
Chegando lá, o policial perguntou à João qual era o seu apelido e com medo de alguma represália, João (conhecido como malandro) não disse qual era o seu verdadeiro apelido.
Por coincidência o policial estava no baile de carnaval na ocasião que o Malandro ganhou o concurso e o reconheceu: “Não era você que se fantasiou de Madame Satã e ganhou o concurso do baile de carnaval este ano?

E desde então o Malandro da Lapa passou a ser conhecido como Madame Satã.
Após despontar como um dos primeiros travestis dos palcos brasileiros ganhou fama como valente em escaramuças na Lapa, principal reduto da boemia e da malandragem carioca nos anos 30, quase sempre resistindo à prisão por autoridades policiais.
Nos anos 40 saía de Madame Satã, uma referência à personagem que ele encarnava travestido como cantor e ator, e que lhe valeu o título de Rainha do Carnaval por três vezes.

Na Lapa, muitas vezes trabalhou como segurança de casas noturnas. Cuidava que as meretrizes não fossem vítimas de estupro ou de agressão.
Foi preso várias vezes, chegando a ficar confinado ao presídio da Ilha Grande, agora em ruínas. Freqüentemente, Madame Satã enfrentava a polícia, sendo detido por desacato à autoridade. Exímio capoeirista, lutou por diversas vezes contra mais de um policial, geralmente em resposta a insultos que tivessem como alvo mendigos, prostitutas, travestis e negros.
É considerado uma referência na cultura marginal urbana do século XX.
 Faleceu logo após a sua última saída da prisão, em abr/1976, morando em sua casa  (na Ilha Grande) que hoje em dia é um camping.

Acesse o link abaixo e leia a entrevista dada por madame Satã ao  Jornal 'Pasquim' ,  em 05 de maio de 1971:

Fontes: Wikipédia,  http://www.ilhagrande.org/Madame-Sata

sábado, 9 de julho de 2011

Revolução Constitucionalista de 1932




Em linhas gerais, a Revolução Constitucionalista de 1932 é compreendida como uma reação imediata aos novos rumos tomados pelo cenário político nacional sob o comando de Vargas. Os novos representantes estabelecidos no poder, alegando dar fim à hegemonia das oligarquias, decidiram extinguir o Congresso Nacional e os deputados das assembléias estaduais. No lugar das antigas personalidades políticas, delegados e interventores foram nomeados com o aval do presidente da República.

A visível perda de espaço político, sofrida pelos paulistas, impulsionou a organização de novos meios de se recolocar nesse cenário político controlado pelo governo de Vargas. O clima de hostilidades entre os paulistas e o governo Vargas aumentou com a nomeação do tenente João Alberto Lins de Barros, ex-participante da Coluna Prestes, como novo governador de São Paulo. O desagrado dessa medida atingiu até mesmo os integrantes do Partido Democrático de São Paulo, que apoiaram a ascensão do regime varguista. 
Cartaz de propaganda do movimento
Além disso, podemos levantar outras questões que marcaram a formação deste movimento. No ano de 1931, a queda do preço do café, em conseqüência da crise de 29, forçou o governo Vargas a comprar as sacas de café produzidas. Essa política de valorização do café também ordenou a proibição da abertura de novas áreas de plantio, o que motivou o deslocamento das populações camponesas para os centros urbanos de São Paulo.

Os problemas sociais causados pelo inchaço urbano agravaram um cenário já marcado pela crise econômica e as mudanças políticas. Talvez por isso, podemos levantar uma razão pela qual a revolução constitucionalista conseguiu mobilizar boa parte da população paulista. Mais do que atender os interesses das velhas oligarquias, os participantes deste movimento defendiam o estabelecimento de uma democracia plena, onde o respeito às leis pudessem intermediar um jogo político já tão desgastado pelo desmando e os golpes políticos.

Antes de pegar em armas, representantes políticos de São Paulo pressionaram para que o governo Vargas convocasse uma Constituinte e a ampliação da autonomia política dos Estados. Em resposta, depois de outros nomes, indicou o civil e paulista Pedro de Toledo como novo governador paulista. Logo em seguida, Getúlio Vargas formulou um novo Código Eleitoral que previa a organização de eleições para o ano seguinte. No entanto, um incidente entre estudantes e tenentistas acabou favorecendo a luta armada.

Em maio de 1932, um grupo de jovens estudantes tentou invadir a sede de um jornal favorável ao regime varguista. Durante o conflito – que já havia tomado as ruas da cidade de São Paulo – os estudantes Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo foram assassinados por um grupo de tenentistas. As iniciais dos envolvidos no fato trágico inspiraram a elaboração do M.M.D.C., que defendia a luta armada contra Getúlio Vargas.

No dia 9 de julho de 1932, o conflito armado tomou seus primeiros passos sob a liderança dos generais Euclides de Figueiredo, Isidoro Dias Lopes e Bertoldo Klinger. O plano dos revolucionários era empreender um rápido ataque à sede do governo federal, forçando Getúlio Vargas a deixar o cargo ou negociar com os revoltosos. No entanto, a ampla participação militar não foi suficiente para fazer ampla oposição contra o governo central.

O esperado apoio aos insurgentes paulistas não foi obtido. O bloqueio naval da Marinha ao Porto de Santos impediu que simpatizantes de outros estados pudessem integrar a Revolução Constitucionalista. Já no mês de setembro daquele ano, as forças do governo federal tinham tomado diversas cidades de São Paulo. A superioridade das tropas governamentais forçou a rendição dos revolucionários no mês de outubro.
Por Rainer Sousa

Fonte  site brasilescola.com

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A guerra por um pente

Cartaz do filme "A Guerra do Pente"
Oito de dezembro de 1959. Antônio Haroldo Tavares, subtenente da Polícia Militar, compra um pente e pede uma nota fiscal. O comerciante, o sírio-libanês Ahmad Najar, se nega a emitir o documento, talvez pelo irrisório valor, 15 cruzeiros. O policial bate o pé em nome de seu direito (e dever) de contribuinte. Para ele, não se tratava de uma questão de dinheiro, mas de princípios. Sem paciência para discutir, o dono da loja pede ajuda aos seus quatro funcionários para jogar o “problema” porta afora. No quebra-pau, Antônio tem uma perna fraturada. A cena é assistida por cerca de 30 pessoas, que, revoltadas, iniciam uma depredação do Bazar Centenário. Era o estopim para a Guerra do Pente – talvez a maior revolta popular já vista em Curitiba. Mas a real motivação para a “barbárie urbana” que estava por acontecer ultrapassava os limites curitibanos.
O Brasil vivia uma época esperançosa – pelo menos era o que dizia a propaganda oficial. Juscelino Kubitschek, com a promessa dos 50 anos de progresso em cinco de governo, buscava convencer a população do desenvolvimentismo puxado pela industrialização. O governo promovia o consumo com olhos na arrecadação. O cidadão era incentivado a pedir notas fiscais e trocá-las por cupons que davam direito a participações em sorteios de prêmios. A campanha “Seu Talão Vale 1 Milhão” era uma mania brasileira que virou até tema de marchinha de carnaval em 1960.
Mas nem tudo se resumia a confete e serpentina. Os altos índices de inflação preocupavam os pais de família. O momento também era de tensão política. Dias antes militares haviam iniciado um movimento contra o governo JK, conhecido como o Levante de Aragarças. O movimento se apagaria poucos dias depois, mas algo de instável permaneceria no ar.
Voltemos àquela terça-feira, fim de tarde em Curitiba. O Bazar Centenário está com o estoque jogado na rua. A bagunça cresceu, envolvendo cerca de 200 pessoas. A essa altura ninguém mais se importa com o comerciante que foi levado preso pela polícia ou com o fardado que seguiu de ambulância para um hospital. A região da praça Tiradentes, marco-zero da cidade e reduto de vários comércios de sírio-libaneses, abriga uma espécie de guerra. Lojas são invadidas, saqueadas e queimadas. Quem tem tempo, baixa as portas. Quem não tem, luta sem sucesso contra uma massa ensandecida. A multidão ganha o reforço dos que saem de seus serviços. O ataque ao comércio já não é o suficiente: a ira cai sobre os prédios públicos. Mostrando o caráter anárquico do quebra-quebra, o povo ataca até os carrinhos de camelôs que vendiam frutas.
Somente seis horas depois o clima começou a esfriar. A Polícia Civil contabilizou dez feridos – oito deles eram policiais. Entre os populares, mais de 30 presos, alguns com objetos furtados. Correu o boato que o protesto era coisa de estudantes. A União Paranaense dos Estudantes foi a público lavar as mãos, atitude endossada em editorial de um dos jornais da capital. O periódico dizia que os “cabeças das desordens” eram “desocupados ou operários”.
No dia seguinte, logo cedo, enquanto alguns ainda saboreavam as manchetes sensacionalistas do tumulto, uma agitação no centro da cidade anuncia o segundo dia da Guerra do Pente. O comerciante Salim Mattar, da Casa Três Irmãos, ao ver a onda de depredação se aproximando, sacou um revólver e disparou cinco tiros para cima. Uma tentativa desesperada: nem mesmo os tanques do Exército que foram deslocados para o front deram conta de amedrontar a população. Alguns tentaram aproveitar o embalo para destilar um discurso político e por pouco não levaram sopapos do povão. O momento era de ataque e só. Catarse pura, nada de teoria. O tumulto só terminaria na chegada da noite. Como motivo, algo bem curitibano: uma chuvinha típica de não deixar alma viva na rua.
Na quinta-feira, as análises colocavam mais polêmica sobre os reais motivos da Guerra do Pente. Alguém comparou a insurreição curitibana ao Levante de Aragarças. Um famoso criminalista da época creditou a violência ao alto custo de vida – um desabafo do povo. “O problema é fome”, sentenciava outro. O fato é que algo acontecera além da previsibilidade costumeira do curitibano naqueles dois dias.
 Texto  publicado na revista “Aventuras na História”, edição 17, janeiro de 2005

domingo, 29 de maio de 2011

Cristovam Buarque: "Ameniza e não muda"


O Zé e seu "jeitinho brasileiro"
O Brasil é um país de alta criatividade em políticas sociais, com saídas para amenizar, não para mudar a realidade. A criatividade começou na escravidão, ao invés de aboli-la recorremos à Lei do Ventre Livre. Os escravos sexagenários, os velhos, eram libertados, um eufemismo para abandonados. Até a Abolição da Escravatura aconteceu sem oferecer educação nem terra para os ex-escravos e seus filhos. A Abolição foi um eufemismo para a expulsão dos escravos das fazendas para as favelas.

Modernamente também temos sido campeões de imaginação para soluções parciais.

Como o salário não era suficiente para pagar o transporte do trabalhador até o local de trabalho, ao invés de aumento salarial, criamos o vale-transporte, como se fosse um grande benefício social, quando, na verdade, foi um serviço à economia: garantir a presença do trabalhador na fábrica. A regra é a mesma para o vale-refeição. O salário não era suficiente para assegurar a alimentação mínima de um trabalhador, então a solução foi garantir a alimentação do trabalhador, mesmo que suas famílias continuassem sem comida.

Quando a inflação ficou endêmica, ao invés de combatê-la (só enfrentada em 1994), criou-se a correção monetária, que garantia moeda estável para quem tivesse acesso às artimanhas do mercado financeiro, enquanto o povo continuava com seus salários cada vez mais desvalorizados.

Hoje, quando o país vive um apagão de mão de obra qualificada, corremos para fazer escolas técnicas, esquecendo que sem o ensino fundamental os alunos não terão condições de aproveitar os cursos profissionalizantes.

A Bolsa Escola foi criada para revolucionar a escola. Como isso não foi feito, ela se transformou na Bolsa Família, sendo mais uma das soluções compensatórias agregada ao vale-alimentação e vale-gás.


As universidades boas e gratuitas são reservadas para os que podem pagar escolas privadas no ensino básico. No lugar de fazer boas escolas para todos, criamos o PROUNI e cotas para negros e índios. O Brasil melhora com essas medidas, mas não enfrenta o problema e acomoda a população, como se agora todos já fossem iguais. Promovem-se benefícios com soluções provisórias, como se elas resolvessem o problema.

A solução adiada seria uma revolução que assegurasse escola de qualidade para todas as crianças, em um programa que se espalharia pelo país, onde todas as escolas fossem federais, como o Colégio Pedro II, as escolas técnicas militares, os colégios de aplicação das universidades.

Quando a desigualdade social força a separação entre pobres e ricos que se estranham, ao invés de superar a desigualdade constroem-se muros em shoppings e condomínios, separando as classes sociais. Para impedir a convivência de classes, impedimos estações de metrô em bairros ricos, o que mostra um total desinteresse desses habitantes pelo transporte público.

Falta professor de Física, retira-se Física do currículo. Os alunos não aprendem, adotamos progressão automática. O Congresso não funciona, o STF passa a legislar. A população fala Português errado, em vez de ensinar o correto a todos legitimamos a fala errada para a parte da população sem acesso à educação. Adotamos dois idiomas: o Português dos ricos educados e o Português dos pobres sem educação; o Português dos condomínios e o Português das ruas.

Ao invés de combater o preconceito e a desigualdade, legalizamos a desigualdade.

Ao invés de fazer as mudanças da estrutura para construir um sistema social eficiente, equilibrado, integrado e justo optamos por simples lubrificantes das engrenagens desencontradas da sociedade. Nossas soluções podem até ser criativas, mas são burras e injustas. É a sociedade acomodando suas deficiências. Ao invés de enfrentar e resolver os problemas, nossa criatividade ajusta a sociedade a conviver com eles. E adia e agrava os problemas porque ilude a mente e acomoda a política.

Cristovam Buarque é professor da Universidade de Brasília e Senador pelo DF.

A história das armas de fogo

Metralhadoras gatling/séc.XIX - armas ligeiras
As primeiras delas, ainda improvisadas, provavelmente surgiram na China logo após a invenção da pólvora, no século IX. Em tubos de bambu, essa mistura de salitre, enxofre e carvão vegetal que explode em contato com o fogo era usada para atirar pedras. Os árabes aperfeiçoaram o invento no século XIII, quando os canhões passaram a ser feitos de madeira e reforçados com cintas de ferro. Mas a contribuição decisiva veio no século XIV, quando surgiram os primeiros canhões de bronze, mais seguros. "O canhão abre caminho para a evolução tanto do armamento pesado quanto do individual", diz o historiador João Fábio Bertonha, da Universidade Estadual de Maringá, Paraná. As primeiras armas de fogo portáteis aparecem no século XV. "É uma verdadeira revolução: os soldados ganham outra importância e as táticas de guerra mudam completamente", afirma João Fábio. A primeira arma individual amplamente usada em batalhas é o mosquete, criado no século XVI. Mas a invenção é lenta e tem péssima pontaria.
Canhão
No século seguinte, com o fuzil de pederneira, a pontaria melhora, mas muitos disparos falham e o soldado ainda precisa abastecer manualmente a arma com a pólvora e o projétil. No século XIX, a criação dos cartuchos e dos mecanismos de carregamento pela culatra tornou as armas mais confiáveis e impulsionou de vez a tecnologia bélica. O ponto culminante foi a automação, com a invenção da metralhadora em 1884. Para completar, os modelos de submetralhadoras, fuzis de assalto e pistolas automáticas do final do século XX tornaram infinitamente mais preciso - e perigoso - o poder de destruição das armas.

Fonte: mundoestranho.abril.com.br

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Precisamos de Você

Aprende - lê nos olhos,
lê nos olhos – aprende
a ler jornais, aprende:
a verdade pensa
com tua cabeça.

Faça perguntas sem medo
não te convenças sozinho
mas vejas com teus olhos.
Se não descobriu por si
na verdade não descobriu.

Confere tudo ponto
por ponto – afinal
você faz parte de tudo,
também vai no barco,
"aí pagar o pato, vai
pegar no leme um dia."

Aponte o dedo, pergunta
que é isso? Como foi
parar aí? Por que?
Você faz parte de tudo.

Aprende, não perde nada
das discussões, do silêncio.
Esteja sempre aprendendo
por nós e por você.

Você não será ouvinte
diante da discussão,
não será cogumelo
de sombras e bastidores,
não será cenário
para nossa ação.

De: Bertolt Brecht

domingo, 15 de maio de 2011

Festival de História em Diamantina/MG


Concebido pela Revista de História da Biblioteca Nacional, o Festival de História - fHist foi estruturado como uma festa multidisciplinar, capaz de propiciar a manifestação da diversidade da produção literária e artística com foco na História em múltiplos espaços, auditórios, tendas e palcos de rua. A realizar-se na bem preservada paisagem histórica e cultural de Diamantina, Minas Gerais, no período de 08 a 12 de outubro de 2011, o Festival é uma realização da Nota Comunicação e já conta com as parcerias da Prefeitura Municipal de Diamantina, da Associação Diamantinense de Empresas Ligadas ao Turismo – Adeltur e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan.
O Festival contará com diversas frentes de atividades, entre as quais a Tenda dos Historiadores, palco das principais conferências, na Praça Doutor Prado; o Cinema no Teatro, com sessões de filmes no cine-teatro Santa Izabel; Proseando no Mercado, no Mercado Velho, onde ocorrerão as sessões de autógrafos e será instalada a livraria do fHist; e a Música no Mercado, no palco da praça. O Festival contará ainda com oficinas de História, de Educação Patrimonial e de Teatro, abertas aos estudantes e professores da região. Em breve serão divulgados a programação e os nomes dos historiadores e jornalistas confirmados.
A participação no Festival de História é aberta a todos os interessados. As inscrições serão abertas às 12 horas do dia 15 de julho. 
O histórico mercado dos tropeiros de Diamantina

PROGRAMAÇÃO
O fHist foi concebido de forma a propiciar a manifestação, em diversos palcos e cenários, da diversidade da produção editorial e artística com foco nos temas da História. Ambientado na bem preservada paisagem histórica e cultural da cidade de Diamantina, o festival se desenvolverá em auditórios, salas de aula, praças, ruas e becos do centro do velho do Arraial do Tijuco, no período de 08 a 12 de outubro de 2011.
Para tanto, a edição 2011 do fHist oferecerá aos seus convidados e participantes uma programação envolvente e criativa:
Tenda de historiadores e jornalistas – Espaço principal do fHist, localizado na Praça Doutor Prado, antiga Praça da Cavalhada Velha do Arraial do Tijuco, a tenda, com capacidade para 500 participantes, irá abrigar as conferências e mesas principais de debates durante todo o festival.
Cinema no teatro – Em sessões no auditório do Teatro Santa Izabel, antiga Cadeia Velha, , os participantes poderão assistir a filmes sobre temas históricos, especialmente selecionados pela organização do fHist, e conversar com diretores e atores convidados.
Proseando no mercado – No Mercado Velho, antigo pouso dos tropeiros, hoje espaço cultural, os autores convidados do fHist poderão falar ao público sobre os seus livros e debater com a platéia.
Livraria da História – Em espaço especialmente reservado no velho mercado, o público terá às mãos os mais recentes lançamentos de livros de História.
Oficinas de História – Antecedendo o festival, uma intensa programação de oficinas e residências criativas, voltadas para os professores e a juventude de Diamantina, colocará os temas históricos e a educação patrimonial na ordem do dia.
Oficininha de Histórias – Na praça do mercado, a manhã do dia das crianças, 12 de outubro, será dedicado a atividades lúdicas e históricas para a meninada.
Histórias cruzadas
Em múltiplas manifestações artísticas, as bandas de música, grupos musicais e folclóricos e as escolas, museus, bibliotecas, livrarias, restaurantes e bares oferecerão durante todo o evento uma programação cultural excepcional, focada em temas históricos. Entre estas manifestações, destacam-se:
Vesperata – Na famosa Rua da Quitanda, os músicos das bandas nas sacadas centenárias, regidos pelo maestro no centro da rua, darão boas-vindas aos participantes e convidados, abrindo a programação cultural do fHist no dia oito de outubro.
Música no mercado – Durante todo o festival, um palco na Praça Barão de Guaicuí, antiga Praça da Cavalhada Nova do mercado, receberá músicos especialmente convidados pelo fHist.
Concertos – Palco das tradições musicais barrocas, as igrejas do centro histórico abrirão suas portas para concertos sinfônicos durante o festival.
Performances de época – Durante os cinco dias do festival, os bares e restaurantes do centro histórico oferecerão aos visitantes atrações especiais, acompanhadas de pratos da saborosa culinária regional.
Trilha histórica e cultural – Cortejo e passeata pelas ruas e becos do centro histórico da cidade, acompanhando bandas e grupos musicais e folclóricos no encerramento festivo do fHist.
 

sábado, 14 de maio de 2011

Contos Medievais - O imperador e o bandido

Imperador Carlos Magno
Carlos Magno estava uma noite dormindo em seu palácio, não longe de Frankfurt, quando viu em sonho um anjo rodeado de uma auréola brilhante de luz sobrenatural. O anjo se colocou diante do Imperador, e o saudou com estas palavras:
— Levanta-te, grande Imperador, e escuta a voz de Deus que fala por meus lábios. É necessário que saias esta noite sem que ninguém te acompanhe, para fazer um roubo. Se queres viver, obedece.

Acordou Carlos Magno, estranhando muito o que havia visto no sonho. E adormeceu de novo com isto na cabeça. Outra vez viu o anjo, que diante dele ordenava:
— Levanta-te, ó rei, prepara-te para cumprir as ordens que te dei. É para o teu bem e salvação do Império. Deus se serve de mim para dar-te a conhecer a sua imutável vontade.

Carlos Magno acordou e ficou pensativo a respeito duas aparições, mas adormeceu de novo. O anjo do Senhor o despertou com redobrada insistência, e exigiu com energia que se levantasse e saísse para roubar.
 Levantando-se, decidiu obedecer e sair do palácio para fazer o tal roubo. Em vão se esforçou para descobrir o sentido das palavras do anjo, que mandava um Imperador honrado fazer uma ação tão desonrosa.
— Para que hei de roubar? — pensava Carlos Magno. — Eu, o homem mais poderoso, o dono absoluto das terras que se estendem desde o Danúbio até os extremos da Espanha, hei de passar por ladrão, como o mais miserável dos meus súditos? Que fiz eu? Desgraçado de mim! Que fiz, para merecer tal castigo da justiça divina?
Mas como a aparição falara três vezes de forma categórica, decidiu obedecer a ordem recebida.
— Bem, roubarei, serei um ladrão, serei enforcado, se for preciso, pois Deus assim o quer.
E o Imperador de barba florida se levantou, vestiu-se, tomou suas brilhantes armaduras e saiu do palácio. Passou pelo dormitório e refeitório dos servidores e escudeiros, que não o perceberam, pois estavam tomados de um pesado sono. Foi à estrebaria, selou seu cavalo favorito e saiu do castelo. Dirigiu-se à selva vizinha, e ia pensando:
— Sendo Deus que manifestou sua vontade, e quer que eu faça uma coisa que me causa horror desde minha infância, eu a farei. Mas não sei como fazê-la, por isso vou procurar o famoso ladrão Elbegasto, que eu persegui sem tréguas. Neste momento ele me será útil. E se lembrou de como havia desterrado por uma pequena falta o nobre Elbegasto, e desde então se havia transformado num ladrão. Seria então esta atitude para com Elbegasto, que fazia Carlos Magno estar pagando aquela expiação? Então a alma de Carlos Magno se encheu de compaixão para com a desgraçada vítima de suas iras, e admirou com humildade a justiça e os desígnios de Deus.

Na pálida luz da lua, o Imperador viu vir em sua direção um cavaleiro solitário. Este parecia igualmente ter visto Carlos Magno, e avançou de maneira que prontamente se iriam encontrar. O cavaleiro estava com uma armadura toda negra, que o cobria da cabeça aos pés, e montava também um cavalo negro. Chegou diante de Carlos Magno e o examinou com curiosa atenção, pois queria saber quem era este que cavalgava solitário pela floresta.

A cor negra do silencioso cavaleiro não parecia a Carlos Magno bom pressentimento. Tremia, pensando que poderia ser o próprio demônio, que tinha vindo ao seu encontro para perdê-lo. Por fim o misterioso cavaleiro falou com altaneria:
— Quem sois vós, coberto por branca armadura, que andais na noite, pelos caminhos sombrios da selva? Sois talvez um servidor do rei, que buscais neste bosque a pista de Elbegasto? Se cavalgais com esse objetivo, desisti, porque fracassareis. Mais rápido que o vento, mais astuto que os conselheiros do rei, esse homem conhece esconderijos e lugares selvagens, melhor que o veado e a raposa.
— Meu caminho não é o vosso — respondeu Carlos Magno. — Somente o Imperador tem direito de pedir conta de minhas ações. E se o que disse não é de vosso gosto, estou disposto a sustentá-lo como convém a um cavaleiro.
Dizendo isto, tirou sua espada da bainha e se preparou para o combate. No mesmo instante o cavaleiro negro fez reluzir o branco aço de sua espada e começou a lutar. O estrangeiro descarregou tão tremendo golpe no elmo de Carlos Magno, que a lâmina se quebrou em vários pedaços, e ele se encontrou indefeso. Carlos Magno ficou envergonhado de matar seu adversário desarmado, e lhe disse:
— Não quero vossa vida. Ficareis livre, se me disserdes quem sois e por que motivo andais por estes lugares.
— Eu sou Elbegasto — respondeu o outro. — Desde o dia em que perdi minha fortuna e Carlos Magno me expulsou do país, tenho procurado sobreviver por meio do roubo e do banditismo. Até aqui ninguém me venceu nesta minha humilhante carreira. Só vós o fizeste. E como me tratastes com generosidade e nobreza, dizei-me o que posso fazer para ajudar-vos, para testemunhar o meu agradecimento.
— Se sois o famoso bandido Elbegasto, cuja cabeça está a prêmio pelo Imperador, podeis testemunhar vosso reconhecimento se me ajudardes a cometer um roubo. Empreendi esta incursão noturna para roubar o Imperador. Vossa ajuda pode me ser útil para esse objetivo. Vinde pois comigo, e realizaremos um roubo juntos.
O bandido respondeu:
— Um momento! Jamais roubei a mínima coisa do rei. Se me tirou a fortuna e me desterrou, o fez por mentiras dos seus maus conselheiros. Longe de mim querer causar o menor dano ao meu senhor. Eu roubo somente aqueles que fizeram sua riqueza por meio do roubo, da cobiça ou do engano. Conheceis o conde Egerico de Egermonde? Vamos ao seu castelo. Ele tem arruinado homens honrados, e não vacilaria em roubar o Imperador de seu trono e tirar-lhe a vida, se tivesse meios para isto.

Carlos Magno se alegrou interiormente, descobrindo um profundo sentimento de fidelidade em Elbegasto, e lhe disse:
— Tu me acompanharás ao palácio de Egerico!
E juntos se dirigiram ao palácio do conde.

Quando lá chegaram, Elbegasto descobriu um meio de entrar no palácio, fazendo uma escalada no muro. Entraram no quarto do conde, pois Elbegasto sabia abrir facilmente fechaduras sem fazer ruído. O conde, que tinha sono leve, disse à sua esposa:
— Deve haver ladrões no castelo, vou ver.

Levantou-se rapidamente, acendeu uma tocha e percorreu os corredores e os quartos. Carlos e Elbegasto tiveram tempo de se esconder atrás de uma cortina do quarto do conde, onde ele não podia imaginar que estivessem, e não foram descobertos. Egerico apagou a tocha e voltou para a cama. Então sua esposa lhe disse:
— Egerico, é certo que ninguém entrou no palácio. Penso que alguma preocupação o aflige, e é isto que o impede de repousar. Sua alma está perturbada por algum perigo imaginário. Diga-me o que o preocupa, para eu o ajudar.
— Já que a execução de meus planos será amanhã, vou lhe dizer. Fiz uma combinação com doze cavaleiros, de assassinarmos o Imperador, pois ele nos proibiu de cobrar tributos aos viajantes pelo caminho real. Ninguém sabe deste propósito, e te peço que guardes silêncio, caso contrário nem tua vida estará segura.

O Imperador não perdeu nenhuma palavra desse diálogo. Quando o conde e sua esposa adormeceram, os dois saíram silenciosamente de seu esconderijo, e fora do castelo combinaram que Elbegasto iria até o Imperador para avisá-lo, mesmo que corresse o risco de ser preso. Carlos rapidamente regressou para o palácio.

No dia seguinte, muito cedo, apresentou-se Elbegasto no palácio e pediu para falar com o Imperador. Este havia convocado todo o conselho, e foi ali que ouviu o relato do nobre. Então Carlos Magno se pôs de pé e disse:

— Sonhei esta noite que o conde Egerico viria ao palácio com doze dos seus, com a intenção de assassinar-me, da mesma forma que o bandido Elbegasto descreveu. Sua ira contra mim tem por causa a proibição que fiz, de obrigar os viajantes do caminho real a que paguem impostos a esses cavaleiros, que têm a alma de ladrões. Cuidei, pois, de que houvesse suficiente número de soldados para intervir, se fosse necessário.

Pelo meio-dia Egerico chegou com seus homens, e no momento em que entraram na sala real foram presos pelos soldados. Debaixo de suas roupas foram encontradas armas escondidas. Surpreendidos e desconcertados, os bandidos 
quiseram negar seus sinistros propósitos. Mas Elbegasto desafiou o desleal vassalo a singular combate, para que Deus fizesse justiça, e a cabeça de Egerico rolou, justamente cortada pelo golpe vigoroso de Elbegasto.

O Imperador chamou Elbegasto e o perdoou publicamente, dando-lhe o cargo de conselheiro, com a condição de que renunciasse às suas atividades desleais.


Fonte:http://contoselendasmedievais.blogspot.com 

sexta-feira, 25 de março de 2011

Cais do Valongo

À esquerda o cais do Valongo e à direita o Cais da Imperatriz. Fonte: Portal Pretos Novos
A descoberta das estruturas dos cais do Valongo e da Imperatriz na cidade do Rio de Janeiro é de grande importância para o resgate e a manutenção da memória da cidade.
O  governo carioca pretende criar um memorial. E mostrar ao mundo o lugar onde desembarcaram no Brasil milhares de homens, mulheres e crianças vindos de África.

 O Cais do Valongo foi construído no fim do século XVIII para o desembarque de milhares de escravos. Foi o maior porto de chegada de escravos do mundo.Entre 1758 e 1851, passaram por ali pelo menos 600 mil escravos trazidos d’África. Metade deles tinha entre 10 e 19 anos.
Já o Cais da Imperatriz  foi construído na década de 1840 sobre o Cais do Valongo, numa grande reforma com o intuito de receber a futura imperatriz Teresa Cristina, que se casaria com Dom Pedro II – teve na época como arquiteto o renomado francês Grandjean de Montigny, que, com a queda de Napoleão, se exilou no Rio.

Quer saber mais, acesse:
http://www.pretosnovos.com.br/
http://pt.wikipedia.org/


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

CURSO - Mitologias Africanas e Afro-brasileiras na Sala de Aula

A "Revista África e Africanidades" promove nos dias 16 e 26 de março de 2011 o Curso 'Mitologias Africanas e Afro-brasileiras na Sala de Aula', ministrado pela professora Nágila Oliveira dos Santos. Oferecido na modalidade presencial, destina-se à reflexão sobre os aspectos mitológicos de matrizes africanas e afro-brasileiras.
Local da realização: Largo de São Francisco, 34 - 5º andar - Centro - RJ


Clique no link e faça sua inscrição: http://www.gg3.com.br/africaeafricanidades

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Exposição - É brincadeira? É Ciência!!

Recebi do meu amigo profº Kristian uma dica bem legal de programa divertido e educativo para as férias. Se você reside em Duque de Caxias, Baixada Fluminense e até mesmo na cidade do Rio de Janeiro aproveite a oportunidade. O folder segue abaixo. Divirta-se!

Mais informações: Museu Ciência e Vida

sábado, 15 de janeiro de 2011

Para gostar de Ler - 7

Pátria Minha
A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama..."

Vinicius de Moraes.

Related Posts with Thumbnails